Tinha uma espécie de ideia romântica da Toscana. Que quando lá fosse, iria alugar um carro e parar há medida que viajava muito devagar. Queria encontrar aqueles lugares especiais que me permitiriam desfrutar da paisagem e avistar ao longe pequenas povoações rodeadas de ciprestes. Encontrei tudo isso no Vale d’Orcia.
Como sempre delineei um plano dos locais a visitar. Tudo encadeado, com horas mais ou menos previstas de chegada e partida. Mas uma saída antecipada de Siena permitiu-me descobrir o Vale d’Orcia.
Já o fiz várias vezes em Espanha mas em Itália foi a única vez. Ir na estrada, avistar uma povoação e parar para almoçar. Foi assim que conheci San Quirico d’Orcia. Como não é muito turístico, as lojas fecham durante o almoço, ficando apenas as esplanadas mais compostas. Almocei na Piazza della Libertá, junto da Chiesa della Madonna di Vitaleta. Dei um passeio pelo Horti dei Leonini, um bom exemplo do que é um jardim italiano, com muitos parterres de buxo, estatuária e um ar tão fresco que sou muito bem num dia quente.
Na Via Dante Alighieri há alguns lugares que me parecem interessantes e onde teria entrado se estivessem abertos. Melhor sorte tive na Collegiata dei Santi Quirico e Giulitta, que foi construída sobre uma antiga igreja do século VIII. Imperdível o quadro Madonna in trono fra i santi de Sano di Pietro. Desci até à estátua de Tazio Nuvolari, sentei-me e apreciei a vista desafogada para o Vale d’Orcia.
A arquitetura é muito semelhante, com as casas em tijolo, havendo algumas pintadas com tons fortes, como o vermelho, laranja e amarelo. As portadas são verdes ou castanhas e em geral o rés-de-chão é ocupado por estabelecimentos comerciais. A despedida fi-la na Chiesa di Santa Maria Assunta, em modo muito intimista, como foi San Quirico d’Orcia.
Mas o momento pelo qual aguardava há meses estava a aproximar-se. É assim um lugar icónico, como os há em tantos outros lugares, e respira simplicidade. A Cappella della Madonna di Vitaleta é incontornável para quem visita a Toscana. Começa a avistar-se ao longe e são muitos os que vão parando na berma da estrada à procura do lugar mais apropriado para a fotografar.
Mas ao contrário do que li, encontrá-la é extremamente simples: na estrada entre San Quirico d’Orcia e Pienza há uma placa com a indicação do caminho. O pior é a partir daqui: uma estrada em terra batida, muito calor e muito pó. Depois do estacionamento, é ainda necessário percorrer mais 500 metros a pé. E novamente o sol. E novamente o pó. Mas compensa. Um silêncio absoluto, uma imagem preciosa, uma memória feliz para o resto da vida.
O final da tarde foi passado em Pienza, um lugar encantador. Ruas estreitas e tranquilas, apesar de algum turismo. De gelado artesanal na mão, dirigi-me para o ponto onde todos querem estar ao pôr-do-sol: Via dell’Amore. É um miradouro para o Vale d’Orcia, onde, tal como em San Gimignano, se formam pequenos grupos para assistir à beleza da natureza.
A maioria das ruas são muito tranquilas, com vasos à porta e bicicletas. Aqui viaja-se em modo slow travel.
Na Piazza Pio II há um encontro de gigantes imperdíveis: a Catedral (com muita luz, tetos em abóbada com pinturas e vários retábulos), o Palazzo Piccolomini, o Palazzo Borgia e o poço, tão comum nestes vilarejos italianos. No Corso il Rossellino passeia-se com calma, espreitando as ofertas das várias lojas. A entrada das ferragens Piselli Leo só prova que artigos menos glamourosos podem fazer fachadas bem decoradas, só é necessário um pouco de bom gosto. La Bottega del Naturista vende o “Pecorino di Pienza”, um queijo local feito a partir de leite de ovelha. O aspeto pode desmotivar mas acreditem que vale a pena provar.
Antes de partir regresso ainda à Via dell’Amore para uma última vista panorâmica. A próxima paragem será em Montepulciano.
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