Na Quinta das Lágrimas, no restaurante Arcadas, o chef Vitor Dias propõe uma cozinha criativa de inspiração tradicional e à base de produtos frescos.
No piso térreo da Quinta das Lágrimas há um lugar incontornável para comensais que não dispensam boa gastronomia de inspiração local com elevado sentido de inovação e requinte. Sou muito bem recebida e acompanhada à mesa junto às icónicas arcadas que dão nome ao espaço. Uma breve observação permite-me logo depreender a sua elegância. Um carrinho de bebidas é trazido à mesa e infelizmente declinado por questões de saúde pontuais. Uma pena. Além do serviço à carta é também apresentado o menú de degustação “Pedro e Inês” mas devido a algumas restrições alimentares acabei por intercalar com o menú “Páscoa”.
O couvert é composto por quatro tipos de pão: milho, azeitonas, cereais e branco acompanhado por um azeite Virgem Extra Colinas. Eu adoro azeites com aquele travo a verde e com sabor persistente na boca mas a particularidade deste é que não tem aquele picante que por vezes é em excesso e desconfortável.
Como cortesia do chef chegou à mesa um abacaxi com hibiscos e ovas de arenque.
Comecei então a navegar pelo Mondego, imagem incontornável de Coimbra. Primeiro com um polvo, camarão e mexilhão com sucos de coentros e “cabelo de velha” (menú Pedro e Inês) e depois com uma triologia do mar em creme de sável do Mondego (menú Páscoa). O robalo servido dentro de uma falso tomate de cor tão vibrante estava excepcional, assim como todo o empratamento.
Volto ao menú “Pedro e Inês” porque me garantem que a presa de porco era imperdível. A carne estava ligeiramente mal passada mas muito tenra e suculenta. Acompanhou com legumes e um cremoso de tubérculo doce que pecou por escasso e uma pipoca de torresmo crocante.
Como pré-sobremesa voltamos aos sabores da região, com uma argola do Rabaçal: um biscoito de amêndoa e pistacho, queijo e um toque de mel.
Já aqui referi em diversos momentos que o leite-creme é das minhas sobremesas de eleição. Não precisa de vir acompanhado de nada nem de grandes empratamentos. Só necessito de uma crosta crocante, para a quebrar com a colher. Quando o leite creme queimado com gelado de folar da minha terra (menú Páscoa) chegou à mesa fiquei literalmente de boca aberta. Rodei o prato tantas vezes, olhei e pensei: como é que vou comer isto de tão bonito que está? A crosta estava exatamente como gosto e sem nunca proferir uma palavra, viajei até à minha infância e ao leite creme que a minha mãe colocava sempre na travessa de Louça de Sacavém, herança da minha avó.
Por fim e como o que é doce nunca amargou, com o café vieram umas gomas caseiras de manga e telhas caramelizadas de amêndoa.
Os menús idealizados pelo chef Vitor Dias tinham sido uma verdadeira viagem gastronómica pela região centro, passando pelo Mondego, Serra da Lousã, Gândara e Rabaçal. O enorme sentido de presença e zelo da equipa de sala tornou este momento ainda mais inesquecível.
Restaurante “Arcadas”
Rua António Augusto Gonçalves
3041-901 Coimbra
www.quintadaslagrimas.pt
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