As torres de San Gimignano

Eleita Património da Humanidade pela UNESCO, San Gimignano é uma pérola toscana, com as suas casas-torre e uma forte identidade medieval.


Se Pisa tinha sido a minha porta de entrada na Toscana, San Gimignano foi onde a senti plenamente. Tive a possibilidade de entrar de carro, uma vantagem dada aos visitantes que vão pernoitar na cidade e que dispõem de viatura própria. O caminho de acesso é sempre a subir, entre ruas estreitas e relativamente desertas. Apenas é permitido parar durante 15 minutos, o tempo suficiente para deixar as malas e ir estacionar fora das muralhas.
Debeladas estas primeiras contrariedades, começo então a explorar San Gimignano. Entro pela Porta San Giovanni que oferece em primeira mão um miradouro para a paisagem toscana. Apesar dos autocarros, da constante passagem de pessoas, consigo abstrair-me do movimento e deixar-me levar para os campos lavrados. Mas ao entrar na Via San Giovanni é mais difícil. No início da tarde o movimento é muito e por mais que me desvie, tenho sempre a impressão de que vou em sentido contrário. É uma das principais artérias comerciais, com muitas lojas de artesanato (especialmente de cerâmica), produtos regionais (vinho, charcutaria e queijo pecorino), artigos em couro e geladarias. E claro, o Museu da Tortura, comum na maioria das cidades que irei visitar.




Mas outro elemento comum e sobre cuja origem existem várias teorias são as torres. Proliferaram em várias cidades medievais e chegaram a ser às centenas. Função defensiva? Ostentação de riqueza? Na época e hoje marcam fortemente a paisagem urbana e são das principais atrações das cidades. Em San Gimignano não são excepção.
A mais alta é a Torre Grossa, passível de ser visitada em conjunto com a Pinacoteca e o Duomo. Por umas escadas estreitas e sempre a subir, vou visitando os vários espaços, mas sem me surpreender. A coleção da Pinacoteca é relativamente pequena, destacando-se os frescos com cenas de amor.


A subida à torre permite uma visão panorâmica sobre a cidade, as ruas estreitas, as correntes de turistas que se assemelham a formiguinhas e o conjunto de telhados antigos que compõem a paisagem.


O interior da catedral é um pouco mais ostensivo que a sua modesta fachada, com os arcos à semelhança de Pisa e Siena e um conjunto de frescos com cenas da vida de Cristo. O facto de algumas luzes estarem desligadas não ajudou a causar um boa impressão.




Nas escadas da catedral grupos de turistas descansam, fazem poses para as selfies. Mas seguindo pela Piazza delle Erbe até à Rocca di Montestaffoli o movimento abranda. Um ator declama Dante sempre que alguém se aproxima mas o máximo que consegue é ser filmado num vídeo de poucos minutos que provavelmente nunca mais será visto. E novamente a vista para a paisagem toscana, os seus telhados e sem um número de antenas.


A melhor companhia para percorrer as ruas é com uma fatia de panforte. Típico de Siena mas vendido um pouco por todo o lado, na versão mais tradicional ou derivantes para cativar outros palatos. Como se o que é bom necessitasse de ser reinventado.


À porta da geladaria Dondoli a fila quase que chega à cisterna, onde também há sempre gente. É seguramente dos locais mais fotografados em San Gimignano.
Esperei pelo fim do dia, quando a maioria dos visitantes regressam aos autocarros e a cidade respira um pouco para voltar a percorrer os lugares mais movimentadas. As lojas ficam desertas, os vicolos parecem maiores, as ruas percorrem-se melhor. Junto das entradas dos restaurantes colocam-se as mesas para os jantares. Posso agora entrar nas lojas e ver os azeites da região, os pacotes de massas selecionadas, as compotas com frutos locais e provar alguns queijos.





Deixo para o fim do dia a Via Degli Innocenti, o lugar mais disputado. Encostada ao tijolo ainda quente assisto à magia da natureza que me brindou com um bando de andorinhas deliciosamente ruidosas a atravessar o céu. As luzes das casas ganham cor permitindo-me vislumbrar algumas das tarefas caseiras. Que beleza esta melancolia do entardecer.


Jantei no Restaurante Dorandò. Fica um pouco escondido e só lá chega quem procura boa comida num ambiente tranquilo e reservado. Os pratos são requintados e o menu inclui pintada, açafrão de San Gimignano e vinho local. Eu optei por umas costeletas de borrego com cogumelos e legumes e encerrei com um bolo de chocolate.


O dia amanhece com uma certa neblina que paira sobre os telhados do casario circundante. O bom de San Gimignano ficar numa colina é poder sentir estes pequenos nadas que se convertem em tantos.


A cisterna ainda não tem ninguém mas apesar da geladaria Dondoli ainda estar encerrada já oito chineses fazem fila à porta. Ainda tenho umas horas antes de partir para o próximo destino. Regresso à Piazza del Duomo onde apenas oiço o carro do lixo e pequenos autocarros que trazem para dentro das muralhas os funcionários das lojas. No dia anterior, devido ao constante movimento, não me apercebi da genuinidade que San Gimignano ainda mantém. A sua estrutura medieval parece manter-se intacta, com os vários edifícios administrativos e religiosos e um conjunto de ruas que abrem para o antigo casco urbano.


Regresso à Via Degli Innocenti. O estendal da casa em frente ainda mantém a roupa que vi entender ontem ao fim do dia. A neblina começa a levantar. Vai ser um dia de sol.

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