Em Coimbra, a Quinta das Lágrimas, pertencente à cadeia Small Luxury Hotels, além de todo o charme próprio de um palácio histórico, oferece cozinha criativa, jardins exóticos e um passeio pelos lugares onde Pedro e Inês viveram a mais conhecida história de amor portuguesa.
Foi com a nostalgia própria da lembrança de um poema de Nuno Júdice que chego à Quinta das Lágrimas. Ao longe, o antigo palácio parece uma pequena miragem, ganhando forma entre o arvoredo à medida que me aproximo. Sou prontamente recebida e o serviço de vallet parking trata de toda a bagagem. Junto à escadaria sinto a tranquilidade própria de um lugar campestre. A sala que antecede a recepção remete-me para um estilo inglês, talvez pelas cores quentes e do teto em madeira que lhe dá um toque muito aconchegante. É quase como uma espécie de câmara que uma vez transposta nos faz entrar num outro “tempo”.
Durante o check-in, além das informações relativas ao hotel, é também entregue uma brochura com a história da quinta. No acompanhamento ao quarto são-me explicados os vários espaços, os melhores acessos ao exterior e algumas das obras de arte por onde vou passando. Fico entre dois jardins. À entrada o japonês e do outro lado da janela o medieval.
A cabeceira da cama estofada, além de elegante, dá-lhe também um ar muito confortável, que confirmo ao sentar-me e a afundar-me ligeiramente no colchão. Mas talvez o pormenor que mais gostei foi de entrar na casa de banho e de a sentir realmente quente, como deveriam estar todas especialmente num dia de inverno.
Mas não há frio nem chuva que me demova de visitar o espaço exterior. À exceção do Porto, conheço todos os jardins botânicos do país. Não é que seja uma entendida em botânica, mas este meu gosto pelo mundo leva-me a interessar-me por coisas exóticas. E estes jardins são um bom exemplo disso. No jardim romântico destaca-se o majestoso Podocarpus mas o bosque de bambus chineses é dos locais mais aprazíveis, pela serenidade que estas espécies sugerem. Eu gosto em especial da canforeira, cujo óleo uso como anti-inflamatório. Percorro agora o jardim medieval que espreitei da janela do meu quarto, entre canteiros com legumes e flores e a sua bonita pérgula.
A gigantesca Figueira da Austrália, com o seu porte majestoso, fica junto da Fonte dos Amores, local onde Pedro e Inês se encontravam em segredo. A janela e porta neo-góticas, apesar de remeterem para a época, foram mandadas construir pelo bisavô dos atuais proprietários, o que nada retira à magia da história do amor que aqui se viveu. Cruzando a porta entra-se na mata repleta de espécies botânicas a descobrir.
As duas Sequóias plantadas pelo Duque de Wellington abrem caminho até à Fonte das Lágrimas, onde também mandou colocar a lápide com a estrofe 135 do canto III do Lusíadas:
"As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram;
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água, e o nome amores."
Terá sido aqui que Inês de Castro foi morta por ordem de Afonso IV, tendo o sangue ficado gravado na pedra até hoje. A água desta fonte corre para o enorme tanque a que se segue o anfiteatro Colina de Camões.
Os espaços interiores públicos do hotel estão muito bem decorados e são ótimos para se estar num dia frio como este. Quero muito conhecer a pequena biblioteca, considerada pela Forbes como uma das melhores bibliotecas privadas do mundo. Eu sei que sou suspeita mas o cheiro dos livros é dos aromas mais incríveis. E é assim que me deixo ficar, numa poltrona, a folhear sem ler.
É a caminho do spa, no edifício 4 Elementos projetado por Gonçalo Byrne que aproveito para conhecer as obras de arte inspiradas na história de Pedro e Inês. De vários autores, datas e expressões, retratam o grande amor que aqui se viveu. Deixo para o fim da tarde o spa. Das melhores sensações é estar numa piscina e ver a chuva cair.
À frente do restaurante Arcadas está o chef Vitor Dias que propõe uma cozinha criativa de inspiração tradicional e à base de produtos frescos. A ideia inicial seria o menú de degustação “Pedro e Inês” mas devido a algumas restrições alimentares acabei por intercalar com o menú “Páscoa”. Foi uma viagem sem pressas pelos sabores da região, num ambiente requintado e com um serviço muito atencioso.
A primeira impressão da cama confirmou-se: confortável, almofadas de dimensão certa e muito silêncio. Ao correr as cortinas pela manhã vejo que o sol venceu a chuva. Infelizmente não é possível tomar o pequeno almoço na esplanada do restaurante Pedro e Inês mas ainda assim a vista é desafogada para o jardim romântico.
É quando me trazem as bebidas quentes à mesa que reparo no serviço de porcelana com estrofes dos Lusíadas alusivas a Inês de Castro. O regime é em self-service mas uma das funcionárias percorre todas as mesas com uma bandeja com pastéis de nata em miniatura.
A manhã trouxe um sol cuja luz apetece sentir. A fachada está mais bonita, a água corre mais serena e as flores parecem ter desabrochado mais.
Quinta das Lágrimas
Rua António Augusto Gonçalves
3041-901 Coimbra
www.quintadaslagrimas.pt
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