Casa da Ínsua

Na Beira Alta, em Penalva do Castelo, a Casa da Ínsua é muito mais do que um hotel de charme de 5 estrelas. Contempla um espaço museológico e mantém a produção de queijo Serra da Estrela, vinho, produtos à base da maçã Bravo de Esmolfe e azeite.

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Conheci a Casa da Ínsua durante a Semana de Enoturismo que precedeu as últimas Jornadas dedicadas ao tema. O acolhimento foi no pátio exterior, sob os frondosos plátanos, que me recordou a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre, hoje também na posse do Grupo Visabeira. Além de hotel de charme de 5 estrelas, pertence desde Outubro de 2015 à rede de Paradores, um projeto pioneiro que trouxe um novo público à região.
A antiga sala de receção da família é hoje a receção do hotel e aqui são dadas as primeiras contextualizações históricas. Luís de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres foi para o Brasil definir as fronteiras do território português com o de Espanha e graças a isso enriqueceu. Foi com essa fortuna que mandou construir este solar do século XVIII em estilo barroco na sua terra natal. A família importou o que de melhor se fazia noutros países, como é o caso da decoração desta sala, com papéis de parede da Casa Zuber, considerados Património Nacional em França.  A autoria é atribuída a Julien-Michel Gué que se terá inspirado n’A Dama do Lago de Sir Walter Scott.

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A sala dos retratos é dos pontos altos da Casa da Ínsua. Esta família, à semelhança de outras, é de origem bastarda. O tetra avô de Luís era filho bastardo do rei D. Dinis. Luís de Albuquerque era apaixonado por esta terra mas foi obrigado pelo pai a aceitar o convite do Marquês de Pombal e ir para o Brasil. Esta sala foi oferecida pelo Marquês em sinal de agradecimento. Como nunca casou nem deixou descendentes, após a sua morte, todo o património passou para o seu irmão mais velho que, através do regime de morgadio, ficou impedido de casar e ter filhos e o obrigou a adicionar património ao já existente. Nas paredes estão expostos os retratos dos homens da família e há também uma inovação: a salamandra elétrica, já que a Casa da Ínsua foi das primeiras casas em Portugal a ter eletricidade própria.

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Numa casa como esta não podia faltar um espaço dedicado à música, também ele inovador. O cravo tem pés de cristal para que o som fluísse melhor. O teto, além de acústico, é muito bonito, com representações das três estações do ano (exceto o inverno), os doze meses e os signos do zodíaco do século XIX. O chão é embutido e tem catorze tipos de madeira e uma enorme flor de liz desenhada. Imaginem dançar num cenário destes.

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Menos exuberante é o teto da sala de jantar: a sala das camélias. As senhoras da família, desagradas com as figuras femininas exóticas mandadas pintar por Manuel, taparam-no com madeira.
Quantos mais espaços percorria, mais achava curioso este sentido de modernidade que o dinheiro permitia. E são vários os exemplos: um rechaud a meio caminho entre a cozinha e a sala de jantar, de modo a manter a comida quente; um afiador e polidor de talher; um moinho de café e um saca rolhas industrial. Em alguns momentos lembrei-me da série Downton Abbey, mas à portuguesa.
A cozinha unicamente destinada à família, toda branca, é qualquer coisa de único. Era uma forma de, com um simples olhar, detetar algum déficit de higiene. Em exposição encontram-se objetos da época, como um fogão a lenha, utensílios em cobre ou ferros de engomar a brasas.
Para os funcionários, que chegaram a ser 320, havia uma cozinha própria, equipada com outro tipo de estruturas, como um guindaste para ajudar a puxar os grandes tachos e panelas.
Numa casa como esta não podia faltar uma capela. A simbologia maçónica presente mostra a ligação já antiga a esta organização, o que levou a que não sejam reconhecidos pela Igreja casamentos aqui celebrados. Os painéis de azulejos são da autoria de Leopoldo Luigi Batistini.

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Regresso ao terraço junto à sala de jantar para um aperitivo, numa manhã soalheira de verão de S. Martinho, que mais não faz do que enaltecer a beleza dos incríveis jardins de inspiração francesa, à Le Nôtre. Onde outrora se banhou Ingrid, a professora austríaca de ar exótico, nadam agora cisnes que sem receios se aproximam. Percorro os caminhos de terra entre parterres de buxo, camélias e roseiras, observando a conhecida torre com as ameias a recordar outros tempos.

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Numa quinta desta dimensão, com tantos empregados e tantas inovações à época, tinha de ter serviços in loco que pudessem assegurar as diversas atividades. O Núcleo Museológico da Casa da Ínsua recuperou, requalificou e disponibilizou ao público um vasto património que vai desde espaços (antiga serralharia, lagar de azeite, mós) até ao conjunto de objectos relativos ao trabalho desenvolvido por Luís Albuquerque durante a sua estada no Brasil. É absolutamente incrível o detalhe dos trabalhos ilustrados das várias espécies de fauna e flora.
Apesar de na Casa da Ínsua também se produzir Queijo e Requeijão Serra da Estrela DOP, compotas e vinho, não nos foi possível visitar a queijaria, doçaria nem adega. No entanto, todos estes produtos estão em venda na loja da quinta.

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Seguiu-se o almoço no Restaurante Casa da Ínsua com uma cozinha de inspiração regional mas com um toque de sofisticação. Iniciei com um carpaccio de novilho com queijo velho e canónigos. Seguiu-se um bacalhau com puré de azeitona, pimento e cebolada. O cabrito em tornedó com esmagada de batata estava exceptional e fechou com chave de ouro com um bolo do cardo com gelado de baunilha e macadâmias e molho de frutos vermelhos. Muito apelativo visualmente, primeiro estranha-se e depois entranha-se. Depois de no dia anterior ter experimentado a margaça, achei que usarem plantas que associamos a tudo menos a deliciosas sobremesas tinha sido uma ideia excelente. Todos os pratos foram harmonizados com vinhos Casa da Ínsua.

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Parador Casa da Ínsua
3550-126 Penalva do Castelo

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