Conhecer Lucca partiu de uma ideia simples: fazer uma paragem para descansar entre Pisa e Chianti. E como habitualmente estava tudo planeado: onde estacionar, o que visitar e onde comer. Mas claro, se tudo corresse como previsto a emoção não seria a mesma.
A primeira surpresa foi logo à chegada. O GPS levou-me ao parque mas estava completamente cheio. Mesmo ao lado, com direito a estrada cortada e tudo, havia uma espécie de feira popular, com carrosséis, carros de choque, farturas e uns doces típicos que se fazia fila para adquirir. Mas após alguma persistência lá consegui lugar. Primeira etapa ultrapassada.
Ao afastar-me desta confusão, as ruas começam a ser mais tranquilas: pessoas a sair do trabalho, mães de mão dada com os filhos e algumas buzinadelas próprias da impaciência italiana. Sempre com o passo apressado, já que a luz parece sumir-se a uma velocidade diferente, começo a avistar as muralhas de Lucca. De repente, pareço estar noutra cidade, onde a calma se apoderou do espaço. Cruzando a Porta S. Maria, a primeira coisa que vejo são imensas bikecar’s estacionadas. E de facto, junto às muralhas, aproveitando a sombra das árvores e um silêncio invulgar, há quem lhes ache interesse.
De mapa na mão, prossigo pelas ruas estreitas. As bicicletas começam a ser uma constante. A primeira paragem é na Basilica di San Frediano, cuja fachada impressiona pelo mosaico em estilo bizantino, representando a Ascensão de Cristo.
E é a partir daqui que Lucca parece novamente transformar-se. Ao chegar à Via Fillungo as lojas sucedem-se, as pessoas atropelam-se e qualquer lugar parece servir para encostar bicicletas. À medida que a vou percorrendo lembro-me da Rua das Flores, no Porto, embora nesta haja bastante comércio, além de locais de restauração e edifícios históricos. O vinho está sempre presente nas montras, assim como a promoção das especialidades locais: cogumelos selvagens de Garfagnana, tártaro de Chianina, buccellato di Lucca ou a trecce (trança de fruta cristalizada).
Mas é junto à Porta dei Borghi que me demoro, com o fresco já meio apagado, as varandas floridas, a retrosaria de 1951 ou a mercearia fina Forno Alimentari G. Giurlani onde apetece entrar e tudo comprar. Depois das multidões da Via Fillungo, nesta pequena praça improvisada bebe-se um copo de vinho à entrada do bar enquanto se ouve música, passeia-se o cão, fala-se (à boa maneira italiana) ao telemóvel, vê-se quem passa. Celebra-se a vida. Um momento irrepetível e único, que desejei guardar para sempre no coração.
O ocaso aproxima-se galopante, impedindo-me de sentir Lucca como gostaria. A Piazza dell'Anfiteatro é o local para onde todos parecem convergir. Apenas com quatro entradas, é diferente de todas as praças que até hoje vi. Construída à semelhança do antigo anfiteatro aqui existente, ainda há vestígios nas paredes exteriores. Vejo sobretudo turistas nas esplanadas mas ao centro, junto à estátua de Tíndaro há muitos locais, a brincar com os filhos, no regresso a casa.
À medida que o fim do dia se aproxima, Lucca parece ter cada vez mais pessoas mas de regresso às muralhas, a calma volta a instalar-se.
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