Fazia falta no Dão um restaurante como a Mesa de Lemos. A visão de Celso de Lemos e a mestria de Diogo Rocha colocaram Silgueiros na rota dos melhores espaços gastronómicos de Portugal.
Tenho o privilégio de ter estado em dois momentos na Mesa de Lemos. A primeira foi há dois anos, durante as vindimas, onde apenas conheci o espaço. Fiquei assoberbada com o impacto, primeiro no exterior, para a imensidão de vinhas e depois no interior, com todas as obras de arte e aproveitamento arquitetónico da mãe natureza. A última foi pelo S. Martinho, num jantar exclusivo.
Sob o breu da noite, a Mesa de Lemos parece uma caixa de luz, para onde nós, comensais, nos encaminhamos. Ao entrar, a impressão mantém-se: o espaço, a arte, a harmonia mas também a proximidade. Não há barreiras entre sala e cozinha. Desfeita a curiosidade de quem estava a conhecer o espaço pela primeira vez, foi tempo de sentar.
O chef Diogo Rocha vem cumprimentar-nos e explicar o que tem preparado. Iria degustar um menú com apenas 15 dias onde homenageia as memórias e os sabores do proprietário.
–Quando cheguei ao restaurante (na verdade, ainda não havia restaurante), Celso de Lemos explicou-me o que pretendia: servir o melhor ovo, a melhor batata e o melhor azeite.
A Mesa de Lemos não é “apenas” um restaurante. É a visão de Celso de Lemos para um espaço gastronómico requintado mas com um toque de informalidade.
Cada vez acho mais interessante haver um pouco de “teatralidade”, que neste caso é apenas trazer à mesa como tudo começou. Com um toalhete húmido com rosmaninho e um chá de rosmaninho e mel, dentro de um baú vem algodão egípicio, matéria prima das toalhas produzidas por Celso de Lemos na Abyss & Habidecor.
Seguem-se quatro pequenas entradas: um carapau curado com sal, uma tartelete de azeitona, um pastel de massa tenra de moelas e um ovo que recolheu enormes elogios. Foram harmonizadas com espumante Ribeiro Santo Blanc de Noirs, feito a partir das castas tintas Tinta Pinheira e Touriga Nacional.
Em vez da raia, pinhão e pêra optei por um prato mais leve: lagostim com molho de iogurte, abacate e romã.
Voltei a juntar-me aos restantes comensais para um porco bísaro de Trancoso acompanhado por brócolos e marmelo. Foi harmonizado com Quinta de Lemos Dona Santana 2010 composto por quatro castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Jaen e Alfrocheiro.
Numa noite com tantas combinações curiosas, segue-se mais uma novidade: como pré-sobremesa foi servida margaça com petazetas, uma planta parecida ao malmequer, que cresce nas vinhas e é colhida na primavera, seca e usada durante o ano.
Para celebrar o S. Martinho veio a castanha de Vinhais com um creme de erva doce e um toque de jeropiga, mas aqui as memórias de Celso de Lemos cruzam-se com as minhas. Foi bom recordar porque é que o chocolate belga é dos melhores do mundo.
No final era imperativo dar os cumprimentos ao chef e equipa. Tantos sabores autênticos, quase todos nacionais, numa homenagem ao homem por detrás da obra. À saída, sob um céu estrelado, penso que faltam poucos dias para se conhecer os restaurantes que irão receber as estrelas Michelin. Pode ainda não ser desta mas a Mesa de Lemos lá chegará.
Mesa de Lemos
Passos de Silgueiros
3500-541 Silgueiros
www.celsodelemos.com
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