A cerca de 10 quilómetros de Mêda, as ruas empedradas da aldeia histórica de Marialva levam-nos a tempos longínquos da nossa história mas também ao quotidiano das gentes da terra que tão bem sabem receber.
Todas as estações são boas para visitar a aldeia histórica de Marialva mas acho que o cinza da pedra combina bem com o tempo frio. Conhecer apenas a aldeia ou dormir nas magníficas Casas do Côro é por si só uma boa experiência mas incompleta se não se entrar na zona amuralhada.
Assim que atravessei o portão de Marialva só conseguia pensar em subir às muralhas, procurar um ponto alto para uma vista sobre a planície. Ainda assim, ouvi a contextualização histórica do guia: os povos que aqui habitaram, a evolução do nome e a importância durante a formação do reino de Portugal. Percebi a sua localização estratégica, rodeada de rochas que naturalmente defendiam a cidadela e da relevância para os judeus no reinado de D. Manuel. Visitei a Igreja de Santiago e a Capela do Senhor dos Passos (teto maravilhoso) mas foi no largo da praça, junto à cisterna e ao pelourinho (um dos mais bonitos, juntamente com o de Trancoso), que senti uma verdadeira emoção.
Talvez seja por das construções só restarem vestígios que ao percorrer os carreiros, começo a imaginar as casas erguidas com borralhos quentes e chaminés fumegantes. Vou entrando onde posso como se fosse uma convidada invisível a observar o quotidiano, ouvindo as mães que chamam ternurentamente os seus filhos, carros de bois com palha e vendedores com pregões. Demoro o mais possível nesta minha recriação imaginária, de tão boa que é.
Fora das muralhas, as ruas também têm histórias. No verão a aldeia vira um corrupio mas com o frio sempre se encontra alguém na praça a aquecer o corpo. A caminho da Capela de Santa Bárbara também me cruzo com um casal. Somos um povo hospitaleiro mas a minha costela beirã diz-me que cá sabemos receber muito bem. Fico um pouco à conversa, sobre o tempo, a terra, o frio. Pequenos nadas que significam tanto.
Encostada às paredes de pedra da capela contemplo a planície uma vez mais, sem pressas, sem ruídos, sem ninguém.
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