Uma adega inovadora num Alentejo tradicional. Um projeto arquitetónico arrojado sem comprometer o respeito pela Natureza. Uma seleção de castas adaptadas ao solo e vinhos diferenciadores. Bem vindos à Herdade do Freixo.
O caminho até à Herdade do Freixo coloca-me mais uma vez a questão: gosto mais da Primavera ou do Outono? E é com com estes pensamentos que vou parando e fotografando, seguindo vagamente, com a paisagem a alimentar mais as dúvidas do que a trazer certezas.
Atravesso o portão e entro numa área protegida, a que eu acrescento privilegiada. Desde a plantação da vinha à projeção do edifício, tudo foi pensado ao pormenor mas sem esquecer o respeito pela Natureza. Além dos sobreiros, das oliveiras seculares e milenares e das antas, este é um dos locais onde a cegonha preta nidifica em Portugal.
Pelo caminho de terra batida vou-me aproximando da estrutura onde funciona a adega e restantes serviços. Consigo avistá-la mas quando as videiras estiverem cobertas de folhas apenas se verão as cúpulas. É um edifício soterrado, protegido, para que apenas brilhe a Natureza. Deixando o marco geodésico para trás, a 450 metro de altitude e de onde se avista o Redondo, Evoramonte, São Miguel de Manchede, Freixo e Serra D’Ossa, desço até à entrada. Lembro-me da Anta Grande do Zambujeiro e de facto não errei. A ideia do arquiteto Frederico Valsassina foi recriar uma anta, já que a adega está localizada entre sete. Mas este é apenas um dos muitos conceitos deste projeto arquitetónico que não descurou a sua envolvência.
Na recepção, que serve também de sala de provas, há um tronco de uma árvore, pesos, tarros e cochos, bem marcantes da identidade alentejana. Um pouco mais à frente encontro os cestos de verga usados antigamente nas vindimas.
Entro então no coração do edifício em espiral, que internamente chamam de caracol mas que me faz lembrar um saca rolhas. É bom quando uma obra suscita várias leituras. Está pensado para as visitas decorrerem sem perturbar os trabalhos e adaptado a pessoas com mobilidade reduzida. Apesar de ser um edifício soterrado, as grandes clarabóias permitem a entrada de luz natural. À medida que vou descendo, não sinto ruído nem odores.
Apesar de já ter estado em tantos espaços enoturísticos, este é o primeiro onde começam por me apresentar os vinhos. O Freixo Reserva Branco é feito a partir das castas Sauvignon Blanc, Arinto e Alvarinho, com esta última a dar-lhe cor e frescura. É um vinho versátil, que tanto pode acompanhar entradas como um prato de caça. No momento da visita já tinha esgotado.
O Freixo Reserva Tinto, feito a partir das castas Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet, é um vinho mais seco mas sem perder frescura. Acompanha tanto pratos de carne como peixe, com capacidade para evoluir na garrafa.
O Freixo Family Collection é o vinho premium, com um rótulo diferente, com o brasão da família. A casta de Petit Verdot dá-lhe uma complexidade, cor e estrutura em boca. É bastante gastronómico, podendo também ser degustado sozinho, ao serão, por exemplo. Ideal para guardar.
À medida que desço vou passando pelos vários espaços de vinificação: sala de separação, prensa e cubas de inox. Mas há três áreas que são realmente diferenciadoras. A primeira é a garrafeira particular, onde se guardam as primeiras sete garrafas de cada ano e onde se realizam as provas verticais. Sente-se o aroma do carvalho, que estando algum em estado puro, liberta um aroma muito agradável. É também um espaço de eleição para observar a zona de vinificação. Segue-se a sala de refeições em xisto puro e carvalho português.
A sala das barricas é dos espaços mais impressionantes, não só pela forma, acústica e ambiente, mas sobretudo pela enorme rocha de granodiorito encontrada na prospecção de terreno e que se manteve. Quando a luz lhe incide, o feldspato brilha. As barricas são da prestigiada empresa francesa Seguin Moureau e têm capacidade para 225 litros. Também elas acrescentam um elemento diferenciador relativo às outras adegas: além da vinha ser nova, dos vinhos ainda serem muito recentes, as barricam apenas são usadas uma única vez.
É aqui que passam todos os vinhos da Herdade do Freixo, ainda que com permanências distintas, sempre sem pressas, já que o tempo é dos melhores aliados para se conseguir grandes vinhos, elegantes e únicos.
Regresso à receção onde me espera uma prova de Freixo Reserva Branco. De cor límpida, são evidentes as notas a frutos tropicais e um ligeiro toque de madeira. Acidez bem equilibrada e final de boca persistente.
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