Em Madrid, a Chueca é dos bairros mais irreverentes, combinando o tradicional com as novas culturas urbanas.
Cruzar-me com alguém de cabelo cor de rosa e crista bem armada, a passear quatro terriers, é mais um dia normal no bairro da Chueca. Num momento de pausa, sentada num banco de uma praça, a senhora ao meu lado pergunta-me de onde sou.
– Lisboa.
– Ah, eu moro aqui, sempre morei aqui. Mas agora o bairro está muito diferente. Antes era mais calmo, agora tem muita gente, muitos turistas. Mas eu gosto de ver estes jovens.
Sinto-lhe a saudade na voz, tentando contrariar os anos que já são muitos. Ainda assim, não perdeu o sorriso e aquele toque de excentricidade comum às espanholas.
Procurando a sombra das fachadas, vou à descoberta deste bairro irreverente, que hoje aloja alguma da comunidade gay madrilenha. Basta elevar os olhos e descobrir as várias bandeiras que os moradores exibem sem receios nas varandas. O trânsito não é intenso e até há bastantes ruas pedonais, o que permite circular de forma mais tranquila.
São várias as lojas com acessórios e livros para gays mas a Chueca é mais do que isso. Há muitos artistas, de várias áreas, que colocam as obras à venda em lojas selecionadas, para um público que procura objectos muito específicos. Gosto dos óculos irreverentes da Ótica Toscana, da Verona Verona (decoração), da YellowKorner (especializada em fotografia), da Et...Bang (personaliza carteiras em pele) e da Oleoteca que comercializa produtos de cosmética à base de azeitona. Claro que as livrarias me despertam mais interesse. Demoro-me na A Punto, especializada em gastronomia. No seu interior há uma cozinha onde se realizam ocasionalmente workshops e provas de vinho. Há livros de cozinha de todo o mundo mas a francesa e mexicana cativa-me em especial.
Na hora de almoçar escolho o renovado Mercado de San Antón, um espaço moderno com vários pisos. No rés do chão mantém-se a venda de frutas, legumes, charcutaria e até um balcão de peixe onde se pode comer ostras. Subindo no elevador ou escadas rolantes chego ao último piso com vários tipos de cozinha. Escolho A Imperial, com espaço próprio de degustação, onde um rabo de toro em vinho tinto e uma travessa de batata frita dá à vontade para dois. Como tenho vertigens não almoço junto às divisórias de vidro mas é uma ótima oportunidade para observar a agitação própria do mercado.
Quem gostar de tapas e de lugares com história não deve perder a Taberna Ángel Sierra cuja fachada conserva ainda azulejos início século XX. Aqui é um dos melhores lugares para saborear o vermute de Reus mas como o dia é de calor, opto por uma esplanada na Plaza da Chueca.
Quero muito conhecer a Iglesia de San Antón, não por ser bonita (que não é) mas porque é diferente, aberta à comunidade e muito integradora. A placa à entrada indica logo como é especial. Aqui pode-se fazer (quase) tudo, desde trocar a fralda aos bebés, receber alimentos, beber água e claro, rezar. No dia 13 de Junho servem-se os panecillos, os bolos de Santo António.
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