
Estremoz tem lugar cativo no meu coração. Gosto do branco das casas, da torre da pousada, dos bonecos típicos e da boa gastronomia. Costumo entrar sempre pela porta que dá acesso ao Largo D. Dinis mas das últimas vezes optei por uma abordagem diferente. Como era Sábado, fui conhecer o mercado que é um dos melhores do Alentejo, atraindo não só locais como pessoas dos arredores.
A viagem abriu o apetite e antes de me dedicar às compras, fui provar os doces típicos de Estremoz. Comecei pelas gadanhas na pastelaria Formosa. Esta espécie de queijada à base de amêndoa e ovo, ligeiramente húmida e sem excesso de açúcar conquistou-me o suficiente para deixar o desejo de voltar. A pastelaria O Rossio fica a poucos metros de distância e tem fabrico próprio do bolo Rainha Santa Isabel. A massa é um pouco mais dura e o recheio também à base de amêndoa é menos doce. É polvilhado com açúcar em pó formando uma rosa.
Vou então explorar o mercado. Os vendedores estão dispostos por tipo de produto mas decido começar num dos extremos para não me escapar nada. É dos mercados onde vejo mais animais, se bem que juntar galos com patos não parece ser a melhor solução, já que a partilha do espaço gera alguns conflitos. As várias espécies de aves gozam dos sol quente de Inverno, enquanto a dona os alimenta gaiola a gaiola. Atravesso até às frutas e legumes.

– Quanto custam os nabos? - ouço perguntar.
– Então você vem cá todas as semanas e ainda não sabe o preço? É 1€ os três nabos.
Cruzo-me com algumas figuras públicas que não têm como fugir a um abraço mais caloroso e à selfie da praxe. Fico impressionada com a quantidade de espargos selvagens e a bancada dos morangos também chama a atenção. A variedade de queijos alentejanos é enorme. Um dos vendedores explica muito detalhadamente o tipo de cura de cada. Gosto também das cadeiras e arcas típicas alentejanas, sempre muito coloridas.


No entanto, a zona dos vendedores de objetos antigos é a mais concorrida, talvez não para comprar mas porque a sua natureza suscita curiosidade. É uma espécie de regresso ao passado. Eu diria que a imaginação é o limite mas com esta moda do antigamente caiu-se no exagero. Se é antigo serve para vender, de preferência a um preço inflacionado. Há objetos com os quais não perco tempo mas alguns merecem atenção.


Já perto do meio dia volto a cruzar a rua até à Casa Galileu. O senhor Augusto Senfim está à porta e por lá se deixa ficar. Aqui vende-se um pouco de tudo, desde malas em pele, calçado, um panóplia de bonés e claro, os chocalhos.
A mercearia do nº 73 do Rossio é o local perfeito para adquirir alguns produtos a preços justos, como os vinhos da Herdade das Servas ou as ameixas d’Elvas. Mas a loja que quero mesmo conhecer é a do senhor Amaro José Saruga. É a sua mulher, a D. Josefina quem por lá se encontra e me faz uma visita guiada aos produtos expostos. Retratam o que de melhor se faz no Alentejo e em particular em Estremoz, com mobiliário típico, louça e claro, os bonecos de Estremoz. São vários os artesãos aqui representados, desde os que se mantêm mais tradicionais aos que já colocam um cunho pessoal nas suas criações. Há um presépio absolutamente fabuloso mas fico-me pela indecisão entre um amor é cego ou a primavera. Lá me decido pelo primeiro, da artesã Fátima Estróia.

Numa terra com tradição de extração de mármore, o ouro branco está presente a cada passo mas brilharia muito mais se estivesse melhor cuidado, como é o caso do Lago do Gadanha.
Regresso ao carro para chegar mais rápido ao Largo D. Dinis. Aqui estão concentrados vários monumentos que merecem uma visita. A torre de menagem é o mais impactante. É possível visitá-la, bastando dirigir-se à Pousada. Já a Igreja de Santa Maria e a Capela Rainha Santa Isabel estão fechadas mas pode-se contactar a D. Constantina e agendar uma hora para (mais informações no Posto de Turismo).

Dedico mais tempo ao Museu Municipal de Estremoz Professor Joaquim Vermelho que é imperdível. Já o visitei várias vezes mas parece que é sempre a primeira. Gosto dos trabalhos em madeira, da recriação da casa alentejana, das peças em barro vermelho mas perco-me nos bonecos de Estremoz. Consigo sempre encontrar pequenos detalhes nas figuras que nunca me tinha apercebido. As “primaveras”, os “amor é cego” e os “pucarinhos enfeitados” são os mais conhecidos mas gosto de explorar os pormenores dos “lugares comuns”, como o guardador de galinhas, a lavadeira, a matança do porco ou o semeador.

Como a descer todos os santos ajudam, aproveito sempre para percorrer um pouco das ruas empedradas e redescobrir arcos, portas e pormenores de decoração.


O lado bom de se poder estacionar no Largo D. Dinis é assistir ao pôr do sol. É aqui que penso como após tantas visitas a Estremoz ainda consigo surpreender-me e encontrar motivos para regressar.
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