Ela cozinha, ele assegura o serviço de sala. À frente do restaurante Herdade das Servas estão os irmão Paulo Baía e Maria da Fé e propõem uma das melhores experiências gastronómicas de Estremoz.

O Feitiço da Lua é um dos filmes da minha vida. Um dos episódios mais deliciosos é no restaurante Grand Ticino, quando Bobo, o empregado de mesa, serve o ministrone à signora Castorini como se se tratasse de um familiar muito querido. Foi esse tipo de atenção que senti no restaurante Herdade das Servas.
O parque de estacionamento bem composto deixa antever que o restaurante estará cheio, e está, de facto. A reserva é realmente aconselhada. É Paulo Baía quem me recebe e me conduz à mesa, junto à janela, onde posso disfrutar da paisagem. A sala não é grande mas noutro local ter-se-ia caído na tentação de colocar mais mesas e comprometer a privacidade. Felizmente, aqui não. Há também uma grande lareira bem típica do Alentejo que imagino acesa nos dias mais frios, o que tornará este espaço ainda mais acolhedor.

Com a carta vêm também as sugestões do dia e a indecisão do que escolher. Chegam também à mesa um queijinho alentejano meticulosamente cortado, de uma perfeição exemplar, cabeça de xara e papa ratos, feito a partir das sobras das farinheiras quando estão a ser confecionadas. Peixe ou carne, carne ou peixe… Decido partilhar um bacalhau à lagareiro seguido de umas bochechas de vitela estufadas em vinho tinto.
E entre um pão alentejano e uma cabeça de xara vou observando o serviço que é de uma enorme eficiência, discrição e profissionalismo, não se ficando em nada atrás de qualquer restaurante de topo.
Primeiro é servido o bacalhau, um lombo a lascar como se quer, batata e couves de bruxelas. Seguiram-se as bochechas de vitela, uma carne tão macia que se desfazia sem necessidade de faca. Acompanhou com um puré de batata, com um ligeiro toque de pimenta e cebolinhas. Ambos os pratos foram harmonizados com Herdade das Servas Colheita Selecionada.



– E para sobremesa, o que vai desejar? – pergunta-me Paulo Baía com um sorriso.
– Sobremesa? Mas estou tão cheia…
Já se sabe que do Alentejo ninguém abala com fome e como os olhos também comem, não há como ver para escolher. Junto do balcão das sobremesas, explica-me o modo de preparação e opto pelas mais tradicionais: o pudim das servas e a sopa dourada. E lá chegaram à mesa, em dose xxl. Começo pela primeira, cuja receita base é do pudim de água de Estremoz mas que aqui se optou por introduzir cocô, ficando semelhante a um quindim. Eu gosto muito de quindins (e até comi recentemente) e posso garantir que este pudim é muito melhor. Há anos que resisto à tentação de provar a sopa dourada porque sempre considerei que fosse enjoativa. Mas à primeira colherada, os cubos de pão fritos, os pedaços de amêndoa e a canela remeteram-me para o Natal com a família à mesa. Para terminar, um pequeno brigadeiro acompanha o café.

Após o repasto, era imperativo felicitar a chef.
– Venha à cozinha. Agora já está mais calmo. – convida-me Paulo Baía.
A chef Maria da Fé continua ao fogão, sozinha e tranquila, de volta das iguarias que tão bem sabe apurar de sabor. São quase 15 horas e o restaurante ainda está praticamente cheio. Não há tempo para grandes conversas.
O restaurante Herdade das Servas não apresenta pratos visualmente impactantes nem técnicas de alta cozinha. Aqui servem-se pratos alentejanos muito bem confecionados, num ambiente elegante e com um serviço exemplar. É sem dúvida uma referência em Estremoz e no Alentejo.
Restaurante da Herdade das Servas
EN 4 - Km 136,4
Estremoz
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