Na aldeia histórica de Marialva, as Casas do Côro são o resultado do desejo de Cármen e Paulo Romão criarem um lugar singular, que juntasse a arte de bem receber beirã, a uma experiência enogastronómica, num ambiente exótico.

O desejo de conhecer as Casas do Côro já era antigo. Achei que ideia de recuperar casas em ruína e transformá-las numa fusão de rural com um toque de glamour, sem nunca esquecer o conforto, eram motivos suficientes para me levarem à aldeia histórica de Marialva.
A grande janela no Largo do Coro indica-me que é uma das casas que ganhou nova vida. Dirijo-me à receção para o check-in e antes de me conduzirem à casa onde vou pernoitar, acompanham-me numa pequena visita para conhecer os espaços: a sala de jantar, do pequeno almoço e o jardim ainda com as cores do outono.



Por caminhos empedrados, entre casas e muros de pedra, subo as pequenas escadas, cruzo o portão e entro no Refúgio das Fragas, uma das mais recentes, inaugurada em 2015. A figura feminina lembra-me o Retrato da Duquesa de Urbino que vi em Florença. É uma verdadeira casa, com sala de estar, jantar e kitchenette totalmente equipada.

No primeiro andar fica o quarto com uma cama para onde apetece de imediato saltar. Corro as cortinas para ver a torre do castelo de Marialva. Talvez haja quem se sente junto à pequena janela “namoradeira” e ligue a enorme televisão mas eu tento, ainda que não seja fácil, ignorar que existe neste espaço tão bonito. O dia de inverno, com uma ligeira brisa fria, não permite disfrutar do terraço mas nos dias mais quentes será com certeza um espaço de eleição. São tantos os pormenores antigos e moderno de decoração que me perco entre lustres, almofadões, quadros e crucifixos, que no seu conjunto criam um ambiente exótico. Em todos os espaços, a limpeza é imaculada.

Apesar de ter todas as condições para aqui relaxar, incluindo uma banheira de hidromassagem, não deixo de conhecer o spa que me garantem ser imperdível. E é, sem dúvida. Há uma ala reservada a quem opta pelos tratamentos, como a cromoterapia, aromoterapia, ou um jacuzzi para dois, que termina na sala de relaxamento, com uma carta de chá japonês exclusiva, de modo a equilibrar o corpo. Eu optei pelo circuito, que inclui o acesso à piscina de água aquecida com ligação ao exterior e ao banho turco e sauna com janelas panorâmicas para o jardim. O ex-libris é o salão, destinado apenas a clientes do spa. Não é fácil (nem desejável) transmitir o quão fabuloso é este espaço, mas posso adiantar que a lareira suspensa rotativa, o bar, os inúmeros livros e revistas, os sofás e cadeirões ou o Champagne Louis Roederer elevam a experiência do circuito, que de si é já fabulosa.


Vestida a preceito, regresso à sala de jantar para a conhecer “com vida”. A lareira acesa dá-lhe um aconchego caseiro, juntamente com a arte de bem receber, os loiceiros repletos, as fotos de família e as mesas postas individualmente com enorme bom gosto.
Em modo de boas vindas, comecei com uma bola de azeitonas com queijo da Serra, acompanhada por um espumante Quinta do Encontro. Seguiu-se um folhado de espargos selvagens com doce de pêssego e aguardente velha. Foi harmonizado com um Casas do Côro rosé 2015.

Por esta altura, e como sabia atempadamente dos pratos que iriam ser servidos, já fazia contas ao espaço disponível no estômago e pedi para não me servirem a sopa.
– Eu trago-lhe menos quantidade mas acho que deve mesmo provar. Vai gostar de certeza.
E gostei. O creme de cenoura estava tão macio que parecia um autêntico veludo.
Para prato principal veio uma vitela mirandesa no barro com redução de Vinho do Porto e canela, acompanhada de batata assada em azeite virgem e rolo legumes. Quem goste de comer muito talvez fique desapontado, ainda que por diversas vezes me perguntem se desejo um pouco mais. Do buffet de sobremesas destaco sobretudo a leveza do bolo do chocolate, ainda que haja opções de fruta, queijos e doces. Nunca me tinham servido jeropiga mas achei a ideia e combinação muito interessante.

Depois do jantar, convidam-me a um passeio pedestre pela aldeia. Como estava frio e a ameaçar chuva optei por não o fazer. Talvez nessa noite tivesse sido melhor ficar mais um pouco neste espaço de eleição, ao calor da lareira, com um vintage e um livro ou à conversa com outros hóspedes. É realmente pena só poder disfrutar desta sala durante o jantar. No regresso à minha suite dou-me conta do silêncio. É um misto de profundo e envolvente. Acendo a lareira e coloco a manta de lã sobre as pernas. Com a televisão a não querer colaborar pensei numa alternativa: corri os estores elétricos e deixei-me envolver por estes braços de pedra, imaginando histórias passadas e sentido o tempo passar bem devagar.
Casas do Côro
Largo do Côro
6430-081 Marialva
www.casasdocoro.pt
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