Foi aos 17 anos que Olívia Chicharro despertou o interesse pelo traje típico das bonecas nazarenas. Começou por fazer os aventais bordados à máquina mas o gosto apurou-se e passou a vestir as bonecas na íntegra. Quarenta anos depois, é uma referência nacional na área.

É na Praça Manuel de Arriaga que me encontro com Olívia Chicharro, junto à sua banca de bonecas nazarenas. Aqui expõe o trabalho de uma vida, já que desde jovem faz disto profissão. Não há como ver para perceber e de boneca na mão, explica-me de que é constituído o traje nazareno feminino.
Começa pela camisa sempre florida e com rendas nas mangas. Quem tinha mais posses usava uma renda maior. Seguem-se as tão conhecidas sete saias, todas diferentes como os sete dias da semana, as sete cores do arco íris ou as sete ondas do mar. A última tem sempre um padrão ao xadrez e por vezes uma fita. Por cima coloca-se o avental, bordado para os dias de festa ou às riscas para o trabalho. O lenço, a que na Nazaré chamam de cachené, usa-se de várias maneiras: pode ser atado em cima, com uma ponta para a frente e outra para trás ou simplesmente sobre a cabeça. A capa preta serve de agasalho, já que os dias junto ao mar são frios. O chapéu ajuda a equilibrar a canastra durante a venda do peixe. Quando chovia, as nazarenas usavam o pompom para enxugar a cara. Os brincos são geralmente compridos e quem tinha posses sobrepunha vários cordões em ouro ao pescoço.

O traje masculino era constituído pelas ceroulas atadas à cintura e ajustadas por uns atilhos nas pernas e a camisa em xadrez feita em caxemira. O barrete era a peça mais importante, onde se guardava o dinheiro, o tabaco e a navalha. Andavam descalços, usando apenas uns tamancos de madeira em dias de festa.

Olívia Chicharro trabalha com dois tipos de bonecas, as que são certificadas (e devidamente autenticadas) e as que não são. A diferença está no traje mas como os gostos divergem, há que ter oferta para satisfazer o cliente. Fazer o traje completo e vestir uma boneca demora cerca de três horas, para preços que vão desde os 4€ aos 30€.


Apesar dos trajes coloridos serem muito apelativos, ainda há trabalho de divulgação a fazer. Alguma ajuda vem por parte dos ranchos folclóricos, que fazem questão de as levar quando se deslocam a outras regiões.
Olívia Chicharro é uma artesã de coração e por isso não se dedica apenas às bonecas nazarenas mas também de outras partes de Portugal, como as bonecas da Madeira e do Algarve, os campinos de Santarém ou as saloias do Oeste.
Exibe com orgulho as medalhas e documentos comprovativos das inúmeras participações em eventos. Ao longo destes anos tem vindo a transmitir os seus conhecimentos através de várias formações, apesar de hoje já não serem tantas as pessoas a trabalhar na área.
Apesar dos produtos oriundos da China terem abalado o comércio, Olívia já vê melhoras.
– Quem aqui chega quer comprar o genuíno e não uma imitação.
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