Recordar a viagem a Saint-Émilion é das minhas memórias recentes mais felizes. Apesar da beleza da cidade medieval que parece brilhar com a incidência do sol, são as vinhas a perder de vista que caracterizam a paisagem. É daqui que saem alguns dos vinhos mais famosos do mundo.

Atravessando a linha de comboio, encontro o primeiro château. Ao contrário do que se possa pensar, château não significa grande palácio, ainda que também existam. É uma casa cujas dimensões, beleza e imponência variam, mas com aquele toque de charme que os franceses aplicam a tudo.

“We ship all over the world” é o que diz a placa visível da estrada. Na mais famosa região de vinhos do mundo, os produtores perceberam que abrir as portas diretamente aos enoturistas lhes poderia trazer vantagens. Organizam visitas às caves e provas comentadas a consumidores cada vez mais informados. Infelizmente, nem todos os châteaux o fazem. Os produtores dos “Premier Grand Cru Classé” apenas recebem profissionais do sector. Ainda assim, enviei um e-mail para o Château Cheval Blanc a solicitar uma visita, que muito simpaticamente foi recusada. No entanto, não deixei de o espreitar. Destaca-se dos outros pela moderna adega e exímio cuidado no tratamento da vinha.

Alguns destes châteaux foram convertidos em unidades hoteleiras e de restauração. Eu pernoitei no Château Franc Grâce-Dieu que tem apenas cinco quartos. Isso permitiu-me um contacto direto com os restantes hóspedes num pequeno almoço muito poliglota. Em falta ficou uma experiência enogastronómica no Château Grand Barrail que convém reservar atempadamente.

Tive o privilégio de fazer esta viagem de carro, o que é uma grande vantagem em Saint-Émilion. Permitiu-me circular livremente, cruzar os portões que por norma se encontram abertos e conhecer inúmeros châteaux.

O melhor foi quando saí da estrada de alcatrão e decidi explorar os caminhos de terra batida. Há muita sinalização nas estradas com indicações dos châteaux mas quando me afastei um pouco mais foi difícil voltar à estrada principal. Felizmente há sempre pessoas dispostas a ajudar, principalmente os trabalhadores que conduzem os tratores enquanto se deslocam entre as vinhas.
– Siga-me que mostro-lhe o caminho.
Pareceu que estava em Portugal.

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