Localizado em Pessac, o Château Pape Clement é a aposta de Bernard Magrez no enoturismo de luxo em Bordéus.

Quando planeei a minha visita aos châteaux de Bordéus, pensei numa experiência diversificada, que me mostrasse abordagens distintas. Se o Château Saint Ahon tem uma imagem familiar, no Château Pape Clement todo o ambiente é de grande formalidade.
A visita começa pontualmente à hora marcada em frente ao château, construído por um dos antigos donos, Jean-Baptiste Clerc. No entanto, esta propriedade é conhecida pela sua ligação a Bertrand de Got que recebeu a vinha quando foi ordenado arcebispo de Bordéus. Mais tarde viria a ser consagrado Papa Clemente V. Efetuou um grande investimento nas vinhas e cave de modo a obter vinhos de elevada qualidade. Algumas das videiras ficam mesmo em frente, de um total de 60 hectares, milimetricamente plantadas, aparadas e rodeadas de flores. A primeira vindima ocorreu em 1252.


Por um caminho de brita, entre canteiros floridos e aromas contagiantes, entro na zona de receção das uvas. Um pequeno vídeo mostra como é feita a vindima. A primeira ocorre em Setembro para as castas brancas e em Outubro as tintas. É um trabalho manual, que engloba cerca de 50 pessoas, durante 3 semanas. As uvas são colocadas em caixas de plástico, as mais baixas que já vi, e transportadas por carregadores. Depois passam por um tapete rolante, onde são criteriosamente selecionadas, retirando-se bagos danificados e impurezas. Separadamente por castas são posteriormente colocadas nos balseiros. Aqui permanecem cerca de 6 meses, transitando depois para barricas de carvalho francês até 18 meses. Só então são decididos os lotes e o vinho engarrafado. Contas feitas, são necessários cerca de dois anos para chegar ao consumidor.


Num outro château, este seria o momento das provas mas num local cuja história remonta ao século XIII tinha de haver algo mais. Sou encaminhada até à cave secreta. A capela original foi destruída mas procedeu-se à sua reconstituição, assim como do túmulo do Papa Clemente V. O espaço é exíguo, por isso temos de entrar à vez. Mais do que valor histórico, é uma atração turística. Já a coleção privada merece outra atenção. Distribuídas por várias salas, somam-se garrafas devidamente datadas, onde a passagem do tempo é bem visível. A mais antiga é de 1893.

É altura de regressar à loja para a prova de vinhos. Começo com um Château Les Grands Chênes 2007 produzido a partir das castas Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc e por diversas vezes premiado. Seguiu-se um Château Fombrauge 2007, um Saint-Émilion Grand Cru, com muitas notas de frutos vermelhos e ideal para acompanhar com uma das iguarias francesas: o foie gras. Finalizo com um Château Pape Clément 2007, o vinho por que todos esperavamos e que mais consenso reuniu. Produzido a partir das castas Cabernet Sauvignon e Merlot, é o mais complexo dos três, quer no nariz, quer na boca, mas de uma enorme elegância.

No fim da prova percorri a loja. Sabia que Bernard Magrez tinha adquido há uns anos uma quinta no Douro, na região do Pinhão e procurei se tinham esse vinho. Não havia muitas mas encontrei algumas garrafas de Esperança 2004.

Regresso ao château, agora que o grupo se dissipou. Em frente há um grande ajardinado, com relva aparada, flores cuidadas e alguns bancos para disfrutar do espaço. Aproveito para admirar a grande árvore plantada durante a Revolução Francesa, símbolo da liberdade ou as oliveiras centenárias oriundas de Espanha. Há também o Pavillon Prélat, em vidro e ferro, da autoria de Gustave Eiffel, direcionado para eventos. Hoje não há nenhum e ainda bem.


216 Avenue Docteur Nancel Penard
33600 Pessac
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