Poderia ser um título de um filme de Jean-Pierre Jeunet mas é apenas uma sugestão de roteiro por uma das ruas mais vibrantes do Porto.

O dia na antiga Rua de Santa Catarina das Flores começa tarde. São 10h30 e só agora as portas de alguns dos estabelecimentos comerciais começam a abrir. Há vários grupos de turistas ainda a tomar o pequeno almoço. São sobretudo jovens e um ou outro casal mais velho. Além das mais tradicionais, como o Cardosas Café, há algumas sugestões alternativas, como a NATA Lisboa ou as Bolas na Praia. O que me assusta é a quantidade de esplanadas em escassos metros. É Inverno, nem quero imaginar com calor.
Na rua dos ourives, a Ourivesaria das Flores destaca-se pela fachada com duas frentes e montras que exibem peças de grande beleza artística. Já a antiga Ourivesaria Aliança deu lugar à Jóia da Coroa, um espaço de galerias comerciais com salão de chá no rés do chão.
A mercearia-garrafeira Dias Menezes é das lojas mais antigas. É uma espécie de mercearia fina, onde se pode comprar vinhos, bacalhau e uma seleção de enlatados. A loja Tradições vende artigos de cortiça.
Para não fugir às “arias”, há pelo menos três: a Chocolataria, a Mercearia e a Retrosaria, todas das Flores, claro está. A merceria vende produtos regionais, como os queijos, enchidos, vinho e azeites, alguns deles biológicos. Já a retrosaria exibe uma bicicleta à porta, ornamentada com flores de lã.

Um dos lugares mais especiais da Rua das Flores é a Livraria Chaminé da Mota. São prateleiras apinhadas de livros, revistas e cartografia, a que nem todos darão valor. Com tempo e paciência, encontrei uma edição da Ética de Aristóteles, de 1517. E como adoro máquinas de escrever, deliciei-me com uma AEG-MIGNON com quase 100 anos.

O Museu das Marionetas do Porto encontra-se encerrado, mas lá diz o ditado, fecha-se uma porta, abre-se uma fachada. E quem fica indiferente à Igreja da Misericórida, com frontaria de Nicolau Nasoni? Nem estava nos planos visitar o museu mas acabo por entrar. Está muito bem organizado e a coleção contempla um espólio com mais de cinco séculos. Há três núcleos imperdíveis: os benfeitores da Misericórdia do Porto, a Casa do Despacho, com o quadro Fons Vitae atribuído a Colijn de Coter, e a sacristia, coro alto e Igreja da Misericórdia. Para mim, o mais fabuloso é o revestimento a azulejo.

Já no Largo São Domingos entro nas Ferragens Fermoura. Vou à procura de um utensílio de cozinha de outros tempos mas encontro uma enorme disponibilidade, indicando-me lojas alternativas onde o poderei encontrar. Acabo à conversa e a explorar este espaço que de outra forma não teria feito. Um pouco na onda d’A Vida Portuguesa mas com preços mais simpáticos, descubro lousas, peões e diversos brinquedos em madeira, que fizeram parte da minha infância. Trago um carrinho para criar novas memórias com o meu filho.

É hora de almoço e o Restaurante Traça é a próxima paragem. O espaço não é grande, nada adaptado a carrinhos de bebé mas com uma enorme boa vontade e ajuda, tive um almoço num ambiente tranquilo e requintado.

Os raios de sol conseguem finalmente vencer as nuvens e as esplanadas começam a encher. Lentamente, subo a Rua das Flores, tentando captar pormenores que me escaparam. A grande diferença é o movimento que agora é mais evidente, incluindo grupos organizados que se deixam conduzir.

O único espaço que me falta conhecer é a Chocolataria Equador, que de manhã ainda estava fechada. Vende chocolates portugueses, 100% artesanais, com ganaches de fruta, vinho do Porto ou sabores mais exóticos. Escolho quatro para levar e provar. O meu favorito é o de mirtilo, mas sem surpreender.


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