Chama-se Francisco Rosado mas é conhecido por Xico Tarefa. Mantém viva a louça tradicional do Redondo.

Tenho um especial carinho pela olaria. O meu avô era oleiro e na casa dos meus pais existe muita louça. Passei o aniversário do meu pai no Alentejo e pensei fazer-lhe uma surpresa. Já tinha visitado o Redondo e o Museu do Barro, por isso conhecia a tradição da terra. Mas não há como ouvir de quem faz, por isso contactei o Xico Tarefa para me falar do seu trabalho. Mostrou logo uma enorme simpatia e abertura. Ficou agendado para Domingo de manhã.
– Bom dia. Senhor Francisco! Senhor Francisco!
Mas não obtenho resposta. Regresso ao passeio e espreito. Apercebo-me pela agitação junto ao café próximo que é lá que se encontra. Não há problema em deixar a oficina aberta e sair por momentos. Aqui é tudo boa gente e ninguém vem por mal.
É neste espaço que cria as suas peças. Há olarias maiores, a recordar os tempos em que a louça era cozida em forno de lenha e que era necessário espaço para a armazenar. Os fornos também eram maiores e a louça era sobretudo utilitária, de dimensões superiores.
Já se atualizou em relação ao antigamente. Os fornos – os dois “ladrões” – e a roda são elétricos, o que em nada altera o trabalho artesanal.
– O que interessa são as mãos e a cabecinha. – explica Xico Tarefa.

A louça é sempre cozida duas vezes. A primeira demora cerca de 7 horas a uma temperatura superior a 900ºC. Depois leva o vidrado e volta ao forno. Mas isto é como na cozinha: é preciso conhecê-lo bem e adaptar ao espaço. O que é importante é que o calor circule livremente.
– Não pode ficar aperreado. – que é como se diz no Alentejo.

Faz dois tipos de louça: a decorativa e a utilitária, se bem que esta em menor quantidade porque não é rentável. Ocupa mais espaço no forno e tem menos procura. Muitas vezes faz por encomenda.
Na louça decorativa não se restringe a um tipo. Xico Tarefa explica a razão:
– No Algarve até os cães e os gatos têm de falar inglês.
No momento da minha visita está a trabalhar numa linha decorativa que adaptou dos bordados de Viana.

No piso superior tem exposto o seu trabalho. O meu olhar foge logo para a louça tradicional do Redondo. É fácil de identificar pela simplicidade decorativa. São representações da fauna e flora, com recurso a quatro cores: amarelo, verde, vermelho e branco. Chama-lhe pintura naïf mas o que faz é respeitar ao máximo a influência da “diva da olaria”: a Tia Rita. Xico Tarefa fala com admiração da harmonia do traço, do brio e da singularidade das figuras que parecem ter vida. Trata estas peças com especial cuidado, a que eu acrescento, carinho.
– Nem todos gostam ou entendem a minha louça. Alguns até pensam que é uma inovação mas estes desenhos são muito antigos. Só compra quem conhece.



O momento mais difícil foi escolher um prato para levar. Bem que pedi ajuda, que me indicasse um especial, mas não há “filhos preferidos”. Pego, coloco na prateleira, volto atrás. O tempo passa e tenho de me decidir. Acabo por descer com o que tem um cesto. Entrego-o a Xico Tarefa que me abre um sorriso e mostra a capa de um livro com essa imagem. Parece que há mais a conhecer, gostar e acima de tudo, valorizar.
Olaria Xico Tarefa
Rua João Anastácio da Rosa, 4
7170-062 Redondo
Tenho dois pratos deste senhor que comprei em loulé. adoro-os!
ResponderEliminarOlá Ana: mais um motivo para quando for no Redondo passar na oficina do Xico Tarefa.
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