O regresso a Tavira

Igreja de Santa Maria do Castelo; castelo de Tavira; Tavira
Tavira é o meu lugar especial no Algarve. Já lá vão alguns anos que a descobri mas sempre que regresso é como se fosse a primeira vez. É uma espécie de felicidade infantil, onde as memórias felizes são alimentadas por novas descobertas.
É importante que a primeira imagem seja do lado oposto ao antigo mercado. Não sei bem a razão mas talvez seja porque foi assim que me apaixonei por ela. Se terão sido as pontes, o casario branco, os telhados laranja ou grande relógio da igreja os culpados eu não sei, mas também não importa.
A alegria das crianças que saltam para o Gilão é contagiante. São incansáveis. Mergulham, nadam, retornam à margem e mergulham. E riem muito. As gaivotas não se deixam perturbar. O rio também é seu e de dezenas de barcos atracados. Alguns estão para venda mas os maiores servem de recreio a famílias que navegam lentamente, entre um copo de espumante  e um camarão tirado do gelo.

Rio Gilão; Tavira
Rio Gilão; Tavira
Antes de atravessar a ponte pedonal olho para trás. Acabo de chegar mas sei que no dia da partida a última refeição é sempre na pizzaria Fenícia. O grande cartaz ainda mantém o número de telefone com seis dígitos mas a esplanada foi aumentada.
Outro dos sinais do tempo são os gelados vendidos no jardim público. Passaram a ser artesanais, com vários sabores, em cone ou no copo. Os turistas, que antes eram escassos, são agora mais, dispersos pelos bancos do jardim, enquanto assistem a um concerto improvisado.
As ruas perpendiculares foram tomadas por pequenas lojas. Há uma a que tenho de voltar. Chamo-lhe latoaria pelos imensos objetos que tem expostos. Foi aqui que comprei a minha cataplana e onde gosto de preparar alguns pratos de peixe.
Não sei se haverá alguma hora em que as esplanadas da Praça da República não estejam cheias. É de lá que saio e começo a subir pelo Largo da Misericórdia em direção ao castelo. Há sempre uma paragem a meio para ver melhor a torre da Igreja de Santa Maria. A sua proporção está desfasada com o tamanho do relógio. Talvez seja isso que a torna tão curiosa.

Igreja de Santa Maria do Castelo; Tavira
O castelo é dos lugares mais turísticos. Daqui tem-se uma visão panorâmica e apercebo-me de como Tavira é um aglomerado de telhados, torres de igrejas, antenas de televisão, parabólicas e cabos elétricos. Sobrepõem-se uns aos outros, sem aparente ordem. De vez em quando, descobre-se uma gaivota.

Telhados de Tavira
Apesar da caminhada ser mais longa, nunca deixo de ir ao mercado. Gosto de ver as frutas, as senhoras a preparar os legumes, sentir o cheiro do peixe fresco e provar os frutos secos. Bem que tento ignorar os folares e filhoses mas acabam sempre no saco. O sal também nunca falha. Vem diretamente das salinas mesmo em frente ao mercado e levo sempre vários sacos.

Sal de Tavira
Com o anoitecer acendem-se as luzes e a ponte romana ganha outro encanto. Mais do que um lugar de passagem, é um local de encontro e de estar. Os bancos de pedra permitem disfrutar da vista, namorar, improvisar um concerto ou vender peças de artesanato.

Ponte romana de Tavira
Em Agosto e Setembro há sempre muita animação noturna. Monta-se o palco na Praça da República para receber dezenas de concertos. Com as feiras vêm artesãos expor os seus trabalhos, alguns verdadeiras obras de arte. É uma excelente oportunidade para conhecer as histórias por detrás das peças.
As lojas em geral estão abertas. Nunca deixo de ir à Casa das Portas. Fico completamente rendida ao bom gosto das peças expostas com um enorme savoir-faire.
Quem gosta de jantares tardios e ao ar livre encontra imensas opções. Qualquer rua ou beco serve para assentar as mesas, colocar pratos e talheres e como toque final, uma vela acesa. Este ano até encontrei músicos tipo mariachis mas sem chapéus. Eu pagava para os ver longe do meu jantar mas já sabe, não se pode agradar a todos.

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