Santa Luzia: capital do polvo

Santa Luzia capital do polvo
Quase todos os verões vou a Tavira. 2015 não foi exceção mas ao contrário dos anteriores, em que apostei em conhecer o património arquitetónico e natural, este quis dedicar-me às iguarias de faca e garfo. Isso levou-me a visitar em dois momentos uma vila piscatória que fica muito perto de Tavira: Santa Luzia.
Da primeira vez chego já após as 13h30. Passo por alguns cafés com as esplanadas meio vazias, o que me leva a pensar que será um almoço tranquilo. Mas ao chegar à Av. Eng. Duarte Pacheco é que percebo que é aqui que tudo se passa. São vários os restaurantes cujas ementas expostas à entrada exibem um sem número de pratos cuja estrela é a iguaria da terra: o polvo.
Após 1h à porta da Casa do Polvo consigo mesa. O dia está ventoso e não fosse a enorme vontade de comer umas pataniscas já teria há muito posto pés a caminho. Para minha desilusão, não as vejo na ementa, mesmo após as procurar vezes sem conta. Acabo por optar por um polvo panado (12,5€), acompanhado por uma dose pouco generosa de arroz com feijão e salada. Já no fim do almoço oiço uma voz na mesa ao lado:
- Prova estas pataniscas que são mesmo boas. Mando vir sempre que cá venho.
Lá estavam elas, ali tão perto. Como as tinha deixado passar?
Quando me trazem o pudim flan (2,5€) é que esclareço: vêm na ementa como entrada e são vendidas à unidade mas pedindo podem servi-las como prato principal.
Regresso uns dias depois. Desta vez vou ao restaurante Polvo e Companhia. Nem preciso ver a ementa e sem me sentar, peço logo as pataniscas.
-Em agosto não temos.
Não estou a acreditar! Explicam-me que nos meses de mais aperto são retiradas da ementa pela atenção constante que necessitam durante a sua confecção. O senhor ao ver o meu desânimo diz-me que se é mesmo isso que quero, me indica o local certo a ir. Fico desarmada com tamanha honestidade e agradecendo, acabo por ficar. Aceito a sugestão do polvo à lagar (13,5€), semelhante à lagareiro, mas com pimento a acompanhar. A apresentação é bastante cuidada, a dose generosa e ótimo de sabor.

Santa Luzia capital do polvo
No fim acabo à conversa com este senhor bem simpático que me explica porque é que Santa Luzia é a capital do polvo. Deve-se às características do polvo capturado na ria Formosa, tanto a nível de quantidade como de qualidade. E dá-me algumas dicas de como o cozinhar. Não vou revelar tudo mas passar por um processo de congelação durante pelo menos duas semanas é fundamental. O resultado é um polvo tenro, suculento, com uma ótima cor e sem perder a pele.
Com o estômago mais composto, dou um passeio junto à marginal, onde se vêm os barcos usados na pesca do polvo. Já foram mais mas ainda restam alguns. Poucos são a remos, a recordar a pesca de antigamente, feita apenas com recurso aos alcatruzes. Hoje são apenas elementos de decoração que recordam o passado. Foram substituídos pelos covos, empilhados ao fundo, prontos para mais uma pescaria.

Santa Luzia capital do polvo
Santa Luzia capital do polvo
Santa Luzia capital do polvo
Santa Luzia capital do polvo

2 comentários:

  1. O senhor com quem falou no Polvo&Companhia deve ter sido o meu pai. O restaurante tem na minha opinião pratos fabulosos, mesmo sem as pataniscas da casa do lado! Para a próxima prove Polvo com mostarda e mel, uma delícia 😉

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  2. Olá Raquel: o restaurante Polvo e Companhia foi uma excelente opção e um lugar onde certamente irei regressar. Gostei muito do polvo à lagar, quer em termos de apresentação, quer de confecção. No entanto, o que me levou a ficar foi mesmo o atendimento, simpático, cuidado e acima de tudo, de uma grande honestidade.

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