Ao longe recordam os quadros de pintura nos grandes museus. Quando me aproximo surgem imponentes rodeados por uma paisagem rica e verdejante. Imagens que suscitam curiosidade e convidam a entrar.
Quem gosta de châteaux encontra na Dordonha o sítio certo para visitar. O dia que passo em La Roque-Gageac permite-me conhecer vários. O château de Castelnaud, símbolo do poder do Périgord, é das fortalezas mais visitadas em França. Um pouco mais à frente fica o château e jardins suspensos de Marqueyssac. Termino no château de Beynac, um dos mais conhecidos da região e cuja imagem é impressionante tanto ao perto como ao longe.
Quase todos estão localizados estrategicamente em pontos cimeiros, uma vez que tinham funções de defesa. O pôr-do-sol tem a capacidade de tornar a beleza ainda mais bela e ao vê-lo descer sobre o château de Turenne sei que estou perante um momento especial. No entanto, o que mais me impressiona é a enorme vertigem que sinto no miradouro do château de Rocamadour, do verde que o envolve, da estrada sinuosa e do momento de serenidade e contemplação.

Dedico o meu o último dia na Dordonha a visitar o château de Hautefort e o château Jumilhac. A estrada não é má mas os quilómetros deixam mossa porque são muitos. Passo por tantas aldeias que lhes perco a conta. Ao fim de algum tempo parecem-me todas iguais, cuidadas e tranquilas. Paro junto a um campo onde as vacas pastam indiferentes aos automóveis ocasionais. É a primeira imagem do château de Hautefort.
Como é costume por estas bandas, os automóveis ficam no parque à entrada. A visita é livre. Subo a escadaria principal e acedo às várias salas: vestíbulo, sala das chaminés, grande salão e quartos. É daqui que tenho a possibilidade de ver os jardins à francesa, com o parterre de buxo a recriar motivos geométricos.
Visito o forno, os subterrâneos e a torre medieval. Ainda começo por explorar os 30 hectares do parque envolvente mas rapidamente percebo que apenas me vou cansar entre trilhos e vegetação.
Prossigo o meu caminho até Jumilhac-le-Grand. Ao contrário de todos os outros, o château Jumilhac não se encontra no alto de nenhum promontório. À entrada da grande porta de madeira há um papel com o horário da próxima visita mas nem tenho de esperar: vejo um rosto tipicamente francês, com uns óculos muito pequenos e redondos e os cabelos despenteados. Não tem mãos a medir com os visitantes. Não é que sejam muitos – seis no total – mas abre a porta, corta bilhetes e faz a visita em várias línguas.
Quer de fora quer no pátio, a percepção é semelhante: é uma construção simétrica. A parte mais antiga remonta ao século XII mas foi sofrendo alterações com o tempo. Tento reter as coisas que me encantam: os telhados pontiagudos em xisto de Limoges, a coleção de tachos reluzentes, a imitação da escadaria de Versalhes, o buraco na porta para o gato, o banco onde se guardava o sal, o armário do pão que se vendia aos peregrinos de Santiago de Compostela e o quarto onde Louise de Hautefort esteve fechada durante 30 anos.
Os jardins estão cuidados e para mim é suficiente. Se a isto juntar o sol a incidir sobre a pedra, o zumbido das abelhas na lavanda, o forte odor das roseiras e o pequeno repuxo tenho o cenário perfeito para guardar na memória. Sento-me no banco debaixo da grande árvore que me confere uma vista de 360º.

Os jardins não salvam a visita mas dão-lhe outra cor. Claro que o calor excessivo para a época, os muitos quilómetros feitos e ser o último dia de viagem podem ter conduzido a alguma desilusão, em especial se se espera encontrar interiores opulentos. O Vale da Dordonha pode ser conhecido pelos 1001 châteaux mas não me fizeram sonhar.
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